quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Que Esse Grito Não Seja Em Vão!


 
O punk rock morreu três vezes no Brasil: em 1983, 1987 e 1994. Aos sobreviventes restaram três caminhos: 1) mudar de estilo, 2) agonizar e morrer anos mais tarde ou 3) resistir. O trio paulistano Cólera escolheu a terceira opção e se deu bem.








CÓLERA

Faça você mesmo sempre diferente


Fotos Michael Meneses

Para Redson, seguir em frente significa levantar bandeiras. A primeira foi a da independência. Depois, a da ousadia. E, finalmente em pleno terceiro milênio, quando o punk rock volta às paradas embalado em papel de bombom, um tanto assim adocicado e domesticado, a banda crava a bandeira da criatividade no solo nacional. “Nunca deixamos o Cólera ficar à mercê da situação”, diz Carlos Mariano Lopes Pozzi, 44 anos, o Pierre, baterista e irmão de Redson. “Estamos sempre fazendo a nossa própria história”. E o público recompensa: “Onde tocamos somos bem recebidos, por jovens e pessoas de mais idade. As pessoas sabem cantar as músicas de cor. É uma coisa autêntica e é incrível”, diz o baixista Fábio de Almeida Bossi, 32 anos.

Punk Vive

E o punk rock (da cena independente, frise-se) acabou não morrendo no Brasil. Pelo contrário. Vinte e dois anos depois da primeira crise, a situação virou pelo avesso. O estilo voltou a ser tocado em todo lugar e o Cólera entrou numa fase de efervescência criativa - diferente de outros medalhões do underground, como Ratos de Porão e Inocentes. O RDP virou “banda das horas de folga de João Gordo”, que ocupa seu tempo como apresentador da MTV, DJ, celebridade e chefe de família - tanto que o guitarrista Jão chamou velhos comparsas e montou a Periferia S.A, banda paralela com Betinho (batera) e Jabá (baixo); e os Inocentes lançaram Labirinto (Ataque Frontal, 2004), disco que recupera o peso do início da carreira, mas não acrescenta quase nada de novo à discografia do grupo. Mudar para ficar o mesmo, sabe como é? Sobrou ao Cólera fazer valer as máximas do “faça você mesmo” e “faça sempre diferente”. E eles fizeram, levantando agora as bandeiras da ousadia e da criatividade. “O Cólera sempre foi uma banda com os pés virados para frente”, confirma Pierre.

Do ano passado para cá, a banda tem trabalhado dobrado, o que resultou em vários lançamentos, todos de forma independente. Primeiro foi o excepcional Deixe a Terra em Paz (Devil Discos, 2004) disco que recupera o grito ambientalista de Verde, Não Devaste! (1990) e traz novas sonoridades à banda, como a quase balada “Águia Filhote”, a hilária “Circocore” e as pegadas roqueiras setentistas de “Aperta o Nó”, “Enxadão Man” e “ENQ”. Mas não é só. A banda prepara diversos lançamentos para 2006. Não perca o fôlego.

A festa de comemoração dos 25 anos do Cólera foi realizada em fevereiro do ano passado, com show no Hangar 110, em São Paulo. A apresentação de cerca de três horas contou com participação especial dos ex-integrantes da banda (Helinho, Val e JB) e estará no DVD que o grupo pretende lançar em 2006. Ao todo, em três horas de material, o DVD terá também: vídeos com a história da banda em shows, desde os memoráveis Grito Suburbano, o festival O Começo do Fim do Mundo (ambos de 1982) e as duas turnês na Europa (1987 e 2004) até os dias atuais; cinco clipes (três deles de Deixe a Terra em Paz); entrevistas e bastidores da produção do DVD. O disco, que deve custar em torno de R$ 20, será vendido em bancas com uma revista poster.

Primeiros Sintomas

Cólera 79/80: Primeiros Sintomas é o nome do disco com as 20 primeiras músicas compostas pelo Cólera, como “Estranho Nocivo”, “Ela Só Sabe Matar” e “Doce Libertar”. Treze das 20 músicas são inéditas; sete já foram lançadas como bônus em outros discos. “O álbum já está prensando e deve ficar pronto até o final de 2005 se o Roberto Carlos não dominar a zona franca de Manaus”, lembra Redson.

A nova turnê começou em agosto e deve durar um ano. O Cólera atualmente prepara músicas para o próximo disco de inéditas, que deve estender o apelo pacifista e ecológico de Deixe a Terra em Paz, segundo Redson. “Vamos falar da sobrevivência do planeta, de nós mesmos e da vida. Punk rock tem que falar à consciência. É a nossa permanente veia de protesto.” A banda gravou recentemente seis músicas inéditas que serão lançadas na Europa como bônus do álbum Deixe a Terra em Paz, em preparação à próxima turnê européia em 2007 e como divulgação do próximo disco.

Os maiores hits foram regravados pelo Cólera com a participação de convidados especiais, como Phillipe Seabra (Plebe Rude) e Nasi (Ira!), para um outro disco (não perca a conta) que marca os 25 anos da banda. Haverá um hino cantado por coral de crianças e uma das músicas virará uma ópera hardcore. Para quem não se lembra, Redson co-assinou a direção musical da primeira ópera punk encenada no País, em 2000, na cidade de Santo André, com participação do escritor Antonio Bivar. “Conseguimos abrir um leque de musicalidade sem perder a postura da banda”, explica Redson sobre os projetos do Cólera. “Sempre avançamos sem repetir fórmulas já testadas. É um traço pertinente do nosso tipo de protesto. O que gostamos de fazer é fazer. Para entender a postura do Cólera é preciso mergulhar em sua história." Vamos lá então.


Jazz

Responda rápido: Sarah Vaughan (1924-1990), diva negra do jazz, tem algo a ver com o punk rock brasileiro? Então, saca só: a música “Medo”, do trio paulistano Cólera, foi inspirada na cantora. “Num show da Sarah na televisão, eu observava a maneira como ela cantava. Era um arranjo triste, melancólico, quase um blues”, conta Redson. “Inspirado nele, compus uma outra melodia. Nasceu a música ‘Medo’. A letra tem a ver com a angústia que a Sarah passava em sua canção.”

Jazz, ópera, música popular alemã dos anos 20. Dá para imaginar que estas sejam influências para o líder de uma das principais bandas do punk rock nacional? “Gosto de coisas variadas, que vão de UK Subs a ópera italiana”, diz Redson. “Quebrar as expectativas é uma das características do Cólera. Não nos importamos com rótulos nem etiquetas, muito menos padrões”, acrescenta Pierre.

Em dezembro de 1979, Helinho (guitarra/vocal), Redson (baixo/vocal) e Pierre (bateria) sobem ao palco pela primeira vez. A apresentação tem lugar na Escola Cetal, no bairro do Limão, em São Paulo. Eles tocam com grupos da Vila Carolina, núcleo base do punk rock paulista. Duas bandas pioneiras do movimento também estavam lá: Condutores de Cadáveres e Restos de Nada. Mas era tudo precário. Os microfones quebraram e o som estava péssimo. No entanto, o público gostou do Cólera, o que deu ânimo para eles continuarem.

As primeiras influências dos irmãos Lopes Pozzi eram bandas como Kiss, Deep Purple e Led Zeppelin, e as brasileiras Casa das Máquinas, Made in Brazil e Joelho de Porco. A idéia de tocar rock tradicional durou até eles ouvirem o disco The Clash (77). “Pirei”, lembra Redson. “Era exatamente aquilo o que queria fazer.” As composições começam a surgir num estilo mais próximo ao que seria chamado de punk rock/hardcore, alguns anos mais tarde.

Antes de completar um ano de banda, Helinho deixa o Cólera. Redson passa para a guitarra, assume o vocal e Val (Valdemir Pinheiro) chega para tocar baixo. A cena punk em São Paulo começa a crescer e o grupo faz um show atrás do outro. A exposição rende ao trio a participação pioneira no disco Grito Suburbano (Punk Rock Discos, 82), junto com as bandas Olho Seco e Inocentes. O histórico festival O Começo do Fim do Mundo, que rolou no Sesc Pompéia, em São Paulo, em novembro de 82, chamou a atenção da mídia para o movimento punk paulista, que seria o grande precursor do punk rock nacional. E lá estava o Cólera. O disco do festival foi lançado em 83 (Sesc). Gravado ao vivo, em apenas dois canais, é um marco da filosofia punk do Faça Você Mesmo. “O ambiente de desbravamento da época marcaria o Cólera para sempre”, comenta o jornalista e escritor Antonio Bivar, um dos organizadores do festival.

Independência

Mas nem tudo foram flores. Tocando em vários lugares, o Cólera começou a ganhar desafetos. “Quem está fazendo é sempre alvo de quem não faz nada”, diz Redson. Ele lembra das ameaças de morte que recebeu e dos boicotes impostos à banda por causa da atitude de independência que sempre pautou o grupo. Segundo ele, o Cólera era uma banda punk porque as atitudes dos seus integrantes se aproximavam das propostas do movimento. “A busca da liberdade era a nossa meta, mas sempre da nossa maneira, sem nos importar com os formatos que o próprio movimento às vezes impunha.”

O primeiro objetivo era fazer um som de qualidade e coerente com a proposta libertária da banda. Não havia bons equipamentos para tocar naquela época? Redson gastava seu salário com eles. Não tinha lugar para ensaiar? Ele montou um estúdio em casa, o lendário Estúdios Vermelhos, de onde saiu a coletânea SUB (83), com Cólera, Ratos de Porão, Psykóze e Fogo Cruzado. Não havia um selo para lançar as bandas punks? O guitarrista abriu sua própria gravadora, a Ataque Frontal, que, em 84, lança Tente Mudar o Amanhã, primeiro e clássico disco do Cólera. Lança ainda as bandas Grinders (Grinders, 87), Kães Vadius (Psychodemia, 87), Varsóvia e a coletânea Ataque Sonoro (85), entre outros trabalhos.

O Cólera começa a divulgar suas músicas no exterior. Eles participam de várias coletâneas na Europa e nos EUA antes de lançar aquele que é considerado um dos dez álbuns obrigatórios do punk rock: Pela Paz em Todo Mundo (Ataque Frontal, 85). A música “Medo” abre o disco, que ainda conta com as clássicas “Funcionários”, “Vivo na Cidade”, “Alucinado”, “Não Fome” e a faixa homônima, que virou o hino pacifista do movimento punk.
 

Ele disse não

Com grande repercussão na mídia e sucesso de crítica e público, o disco levou o Cólera a ser cortejado por grandes gravadoras, entre elas Warner, RCA, Continental, Polygram e EMI. No 3º Festival de Rock de Juiz de Fora (MG), em 86, diretores da RCA foram observar o Cólera com o contrato nas mãos, prontos para assinar com a banda. Para Roberto Peixoto (já falecido), empresário do grupo na época, estava tudo certo. Faltava convencer Redson.

“Não rolou”, recorda o guitarrista. Ele rejeitou o contrato da RCA por uma razão muito simples: acredita que a cena independente não precisa das grandes gravadoras para se desenvolver. “Eu sempre batalhei pela cena alternativa. Tem gente muito boa e competente, além de grandes bandas, que podem fazer uma cena forte e competitiva.”

Redson tem razão. Segundo dados da Zona Franca de Manaus, mais da metade de toda produção de CDs no Brasil vem hoje do mercado independente. A recusa de Redson gerou um mal estar temporário no grupo. Mas a surpresa maior ainda estava por vir. Nos anos 80, o Cólera tocava com bandas que viriam a se tornar famosas no cenário nacional, como Plebe Rude, Legião Urbana, Capital Inicial, Ira, entre outras. Naturalmente, nasceu uma amizade entre eles.

A aproximação foi maior com os integrantes da Plebe, do Capital e da Legião. E eles abriram as portas para o Cólera na gravadora EMI. A banda só precisava assinar o contrato. Entre a caneta e o documento, porém, estava Redson. “Foi muito chato desfazer a surpresa que os caras aprontaram para nós. Mas eu disse não.”

O caminho traçado por Redson para a banda não previa contrato com nenhuma gravadora. Ele queria construir seu próprio caminho. Fazer as próprias escolhas, sem intromissão de nenhum produtor ou diretor de gravadora. E, principalmente, queria levar adiante a cena independente. “A Ataque Frontal estava indo muito bem em 86. Tínhamos o disco do Cólera que vendia muito, estávamos gravando várias bandas. Por que eu iria jogar tudo para o alto em troca de um contrato?”, questiona ele. Naquele momento, assinar com uma gravadora significava falir a Ataque Frontal, pois o Cólera era a banda principal do selo. No entanto, muita gente não entendeu o gesto de Redson. “Se eu tenho a terra, tenho o trator e as sementes, porque vou pegar feijão no vizinho? Vale a pena plantar seu próprio feijão”, argumenta.

Rumo à Europa

Falar em pioneirismo no punk rock hoje não significa muito, com a atual profusão de estilos, tendências, misturas e bandas. Mas, em meados da década de 80, havia um horizonte desconhecido a ser explorado. A grande sacada de Redson foi organizar tudo o que dizia respeito ao Cólera.

Antes que houvesse a internet e todas as facilidades da comunicação, a banda criou o Centro Informativo Cólera (CIC), que vendia produtos relacionados ao grupo, como camisetas, zines, fitas de áudio e vídeo, bottons e posters, tudo via correio. Eles possuíam contato com mais de 3 mil pessoas no Brasil e no exterior. Trocavam informações e enviavam notícias do Cólera regularmente.

Com isso, o mercado europeu foi ficando cada vez mais perto. Os discos da banda vendiam muito bem lá fora e, em fevereiro de 87, com 18 shows marcados em cinco países, o Cólera embarca para o Velho Continente. Tudo na base do trampo, sem nenhum patrocínio. A idéia era ficar três meses. “Acabamos ficando cinco meses e fizemos 56 shows em dez países”, ressalta Pierre.

A maioria dos concertos da turnê rolou nos “squats” - prédios públicos abandonados, ocupados por punks para morar e criar centros culturais alternativos. Eles tocaram em 44 cidades nos países: Alemanha Ocidental, Suíça, Dinamarca, Bélgica, Espanha, Holanda, Noruega, França, Países Bascos e Áustria.

Cólera foi a primeira banda de rock do Brasil a realizar uma turnê pela Europa. Detalhe: cantando em português. Hoje, nomes como Ratos de Porão, Olho Seco, Nitrominds, Garotos Podres, Agrotóxicos e outros, deitam e rolam lá fora. “A iniciativa do Cólera abriu as portas da Europa para os grupos brasileiros”, reconhece Bivar, autor do livro O que é Punk (Coleção Primeiros Passos, Editora Brasiliense, 1982).

De volta ao Brasil, frustração: nenhum show marcado por vários meses. Enquanto na Europa o Cólera fez parte de uma cena explosiva, unindo vários estilos, no Brasil encontrou o underground dividido. Punks de um lado e metaleiros de outro. Começava a explosão do thrash metal. Sepultura e Ratos de Porão dominavam a cena. Vários deixaram o punk de lado e partiram para o crossover, a metalização do punk rock. “Havia espaço para todo mundo, o que eu sempre defendi, mas a cena foi ficando cada vez mais dividida”, afirma Redson.

Cólera thrash metal?

A luta não podia parar. No final de 88, o Cólera lança o EP É Natal? com quatro músicas e uma das capas mais bem produzidas do punk rock brazuca - aquela do menino negro cheirando cola ao lado de uma árvore de Natal (desenho de Adherbal). Um ano antes sai na Europa o EP Dê o Fora, gravado na Bélgica durante a turnê européia. Os brasileiros registraram os concertos na Europa no esperado Cólera European Tour ‘87, disco que foi lançado em 89, devido a dificuldades financeiras.

Antes das gravações do próximo disco, Val decide sair. Em seu lugar é recrutado JB (Josué Correia, ex-Traxte, de Rio Claro). Entram em estúdio para gravar Verde, Não Devaste! (90), primeiro álbum pela Devil Discos, atual gravadora do Cólera.

Influenciados pelas bandas européias de speed-core, o álbum sai bem mais pesado, com a guitarra distorcida ao máximo e as músicas mais agressivas. Ouça, por exemplo, “Parasita”, “Viva a Nossa Geração” e “Repressão Policial”. Segundo algumas revistas especializadas, o Cólera também se convertera ao thrash metal.

Verde, Não Devaste! surpreende ainda pela quantidade de informações sobre ecologia, animais silvestres e materiais poluentes. Três músicas tratam diretamente destes temas: “Verde”, “Presídio Zôo” e “Don’t Waste It”, respectivamente. Um verdadeiro manifesto musical-ecológico que contribuiu para divulgar o trabalho de várias instituições ambientalistas, como o Ceacon (Centro de Estudos e Atividades de Conservação da Natureza), que forneceu os dados para a produção do encarte. A excelente capa do disco, obra do artista plástico Alberto Torquato, ainda recebeu vários prêmios, como a de Melhor Capa para os leitores da revista Bizz.

Apesar da imprensa acreditar num Cólera cada vez mais pesado, a banda preparava mais uma surpresa. O disco 1992: Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico é lançado em 92 e, ao contrário do anterior, as guitarras foram gravadas sem nenhuma distorção, usando apenas a saturação dos amplificadores. É quase um disco de garage music, muito próximo da sonoridade do Clash e do Jam. “Nossa meta era fazer uma nova linha sonora, algo que as pessoas ficassem se perguntando: o que é isso?”, diz Redson, mostrando que o Cólera não seguia tendências da dita “moda”, mas fazia seu próprio caminho.

O álbum influenciou muita gente a voltar a tocar punk rock. Para Redson, pela visão que o grupo tinha do que estava ocorrendo e como sempre foram considerados referência na cena, eles partiram para algo novo, inusitado. Uma das músicas do disco, a instrumental “Fuck’n’Roll”, codifica o que o grupo queria fazer na época. “As pessoas perguntavam se o disco era gótico, garage music ou rock’n’roll. Buscavam rótulos para decifrá-lo. Por isso, criamos um novo: fuck’n’roll.”

As gravações deste disco contaram com um novo baixista, Fábio Bossi , que entrou e não saiu mais. “Do Cólera, na época, só conhecia a música ‘Medo’”, comenta Fábio. “Mas bastaram três meses de ensaios pra aprender todo repertório. Depois disso, shows por todo país.”

Novos sonhos

Ao completar duas décadas de vida e estrada, o Cólera ainda nutria muitos sonhos. O primeiro foi gravar um disco perfeito, desde a qualidade do som, passando pelas letras e pela escolha do repertório. Gravado entre 97 e 98, Caos Mental Geral (98) é lançado com grande expectativa por parte da banda. O disco é composto de cinco faixas regravadas (entre elas “Subúrbio Geral” e “Quanto Vale a Liberdade”) e doze inéditas, destaque para “Dia e Noite, Noite e Dia”, “Cultural Revolução”, “Qual Violência”, “Fuck IURD” (crítica bem humorada à Igreja Universal do Reino de Deus) e a faixa-título. Nota-se neste trabalho letras mais longas. Os temas também são mais abrangentes, tratando desde a produção alternativa e seus críticos (“Cultural Revolução”), o meio ambiente (“Quem é Você”), a condição da mulher (“Por que Ela Não?”) e o próprio movimento punk (“Era”).

No entanto, faltava ao currículo um disco ao vivo, à altura da história do Cólera. Em setembro de 99, rola um show no Hangar 110 (SP) com Flicts, Blind Pigs e Mukeka di Rato. Em três horas de show, o Cólera destila o melhor do seu repertório. O material foi gravado, filmado e virou a surpreendente e ousada caixa Cólera 20 Anos Ao Vivo (2001), contendo um CD ao vivo (21 músicas), uma fita de vídeo (27 músicas) e um livro ilustrado (68 páginas) contando a história da banda. Esgotada, a caixa virou item de colecionador e garimpeiros.

Atualmente tocando em várias partes do Brasil, como Recife (PE), Londrina e Curitiba (PR), Rio de Janeiro e no Vale do Paraíba, a banda trabalha em vários lançamentos (ver primeira parte deste texto), além de organizar desde já a terceira excursão pela Europa, programada para meados de 2007. A concepção de resistência continua firme entre os componentes da banda. Eles sabem que, ao levantar bandeiras como da independência, criatividade e ousadia, estarão sempre expostos a críticas e bajulações.

No entanto, isso pouco incomoda a banda pois ninguém mais do que o Cólera sabe o que significa resistir às tentações fáceis - e normalmente inúteis - da fama. “Quando olhamos para trás e vemos nossa história, nos enchemos de orgulho por tudo o que fizemos, sem nunca abrir mão do nosso ideal de fazer o som do Cólera. Nada mais.” É isso.




Entrevista Exclusiva
- "Criamos o fuck’n’roll!"


Em entrevista exclusiva à RP direto de São Paulo, Redson fala sobre o Cólera, cena independente, tretas e conquistas...


A cada ano que passa o Cólera investe em projetos diferentes, sempre na cena independente. De onde vocês tiram tanto gás?

Da vontade de fazer que temos, não há segredo. Não é por dinheiro, nem fama ou reconhecimento. Se fosse, teríamos mudado de estilo há muito tempo. Gostamos muito de tocar, compor, gravar discos e fazer shows. Essa é a nossa vida. Ao longo desses 26 anos de Cólera (a banda fez aniversário em 26 de outubro) conseguimos abrir o nosso leque musical, avançamos sem repetir e perder a postura como banda.

Aquela fase de chamar vocês de traidores já passou?

Faz tempo. Ao longo destes anos todos fomos objetivos em esclarecer nossa postura. Não nos curvamos a esse ou aquele apelo do público, da cena, da mídia ou de quem quer que seja. Hoje está muito divertido tocar e as pessoas não pensam mais como no passado, quando as convenções eram mais radicais. Punk não se misturava com careca, nem com metaleiro e nem com roqueiros, e vice-versa. Os radicais hoje são minoria.

O Cólera sempre esteve presente, de uma forma ou de outra, na grande mídia. Vocês participaram de diversos programas de televisão, rádio e foram alvo de matérias em revistas e jornais. Hoje, contudo, parece que a mídia deu às costas para a banda, com exceção, é claro, da RP. O que você tem a dizer sobre isso?

A grande mídia hoje já não é o único espaço de peso no Brasil. As bandas alternativas estão criando seus próprios espaços, como rádios comunitárias ou virtuais, zines na internet e outros meios. As bandas gringas estão vindo com muito mais freqüência ao Brasil e isso mostra que a nossa cena independente está em plena atividade e tem muito fôlego e qualidade. Eu sempre defendi isso. Os discos independentes hoje representam mais da metade dos álbuns prensados em Manaus. As bandas expoentes continuam fortes, como Cólera, Ação Direta e várias outras. A cena está muito valorizada e o gênero rock tem uma variedade muito grande no Brasil. A grande mídia é aquela coisa, ela vai e volta em seu interesse. Mas não podemos esperar que a mídia abra espaço para nós, pois conquistamos uma cena muito boa.

Qual a importância da internet nessa conquista?

A internet é uma excelente forma de comunicação entre as bandas, as cenas e os países, além de ser tudo isso com um custo baixo o que ajuda muito as bandas independentes. Depois que fizemos o nosso site (www.colera.org) os contatos aumentaram muito, especialmente com o exterior.

Como eram aqueles primeiros anos de punk rock no Brasil, lá pelo final da década de 70?

Era foda. Primeiro que eram anos de ditadura, sem liberdade de expressão, muita repressão e falta de oportunidade. O Cólera surgiu em 26 de outubro de 1979. O primeiro show rolou em dezembro daquele ano, na escola Cetal, em São Paulo. Tocamos com Condutores de Cadáveres e Restos de Nada e era tudo precário. Os microfones quebraram, mas o show rolou e tocamos nossas primeiras canções. E aí a coisa começou a pegar forte. Fomos lapidando o nosso som e tocando em festivais e aparecendo em discos e coletâneas, como Grito Suburbano e O Começo do Fim do Mundo.

Desde aquela época já dava pra notar que o Cólera era influenciado por outras coisas além do trio clássico Clash, Ramones e Sex Pistols?

Sim, sem dúvida, mesmo porque nunca fomos pessoas radicais quanto a som. Eu, por exemplo, gosto de ouvir jazz, blues, música alemã do século 19, ópera e muitas bandas de rock. A música “Medo”, do álbum Pela Paz em Todo Mundo, foi inspirada num arranjo da cantora americana de jazz Sarah Vaughan. Sabe, e daí? O que isso importa? A música ficou mais ou menos punk por causa disso? Gosto de coisas variadas, que vão de UK Subs à ópera italiana. Quebrar as expectativas é uma das características do Cólera. Não nos importamos com rótulos nem etiquetas, muito menos padrões. Entre agradar gregos e troianos escolhemos agradar ao Cólera.

Por outro lado, essa postura deixava muita gente irritada. Como vocês superaram os narizes torcidos?

Quem está fazendo é sempre alvo de quem não faz nada. Cheguei a receber ameaças de morte e a banda sofreu boicotes por causa da atitude de independência que sempre nos pautou. O Cólera sempre foi uma banda punk porque as nossas atitudes se aproximavam das propostas do movimento. A busca da liberdade era a nossa meta, mas sempre da nossa maneira, sem nos importar com os formatos que o próprio movimento às vezes impunha. Nosso objetivo era fazer um som de qualidade e coerente com a nossa proposta libertária.

Vocês chegaram também a ficar um tempo sem tocar em São Paulo. Como rolou isso?

Ficamos seis anos sem tocar em São Paulo, de 90 a 96. Nos desligamos da cidade. Era uma época em que estava rolando a mudança de LP pra CD e a gente não tinha muita perspectiva de venda, estava difícil pra todo mundo. E também porque o nível de violência em São Paulo era muito grande, principalmente nos nossos shows, que viraram pivôs de violência. Na época, o Cólera era a única banda antiga que estava atuando. Em compensação, fizemos shows no Brasil inteiro, inclusive em cidades que nunca tinham tido show de rock. Hoje, temos público em qualquer lugar do Brasil que a gente vá. Isso acontece graças a essa garimpada que demos no meio underground.

Muita gente acha que vocês poderiam ser mais “famosos” do que são. Tipo "aparecer na Globo", em revistas da moda, tocar em grandes festivais, ser cortejados por outros músicos. O que vocês acham disso?

Cara, se nos importássemos com isso teríamos feito um outro caminho. O Cólera foi alvo de diversas investidas de grandes gravadoras ao longo da sua história, especialmente na década de 80, com Warner, RCA, Continental, Polygram e EMI. Bandas de amigos como Plebe Rude, Legião Urbana, Capital Inicial, Ira! e outras tentaram várias vezes nos colocar em contato com as gravadoras deles. Mas não era o que queríamos para o Cólera. A estrada independente era a nossa meta, manter o som que queríamos fazer, do jeito que queríamos fazer, sem ter que abrir mão de qualquer coisa. Eu sempre batalhei pela cena alternativa. Tem gente muito boa e competente, além de grandes bandas, que hoje fazem uma cena forte e competitiva. Eu luto pelo mercado independente e alternativo, e não só pelo punk. Acho que temos todas as condições de vencer os desafios. É o que sempre digo: se tenho a terra, o trator e as sementes, porque vou pegar feijão no vizinho? Vale a pena plantar seu próprio feijão. Olha - e não importa se há 10, 50, 200 ou 20 mil pessoas nos concertos - a nossa energia é sempre a mesma, pois o importante é que o público teve a iniciativa de sair de casa e vir viver esse agito.

Vocês fizeram a primeira turnê de uma banda alternativa na Europa, em 1987. Hoje ir para o velho continente é coisa corriqueira. Como foi desbravar a Europa e voltar lá 17 anos depois, em 2004?

Na década de 80, nossos discos vendiam bem na Europa e, em fevereiro de 87, com 18 shows marcados em cinco países, embarcamos para a Europa. Foi tudo na base do trampo, sem nenhum patrocínio. A idéia era ficar três meses. Acabamos ficando cinco meses e fizemos 56 shows em dez países. A maioria dos concertos da turnê rolou nos squats. Foi uma experiência incrível e que ajudou a abrir as portas do mercado europeu para o rock alternativo brasileiro. Lembro-me de um show em que tocamos num squat onde havia muitos tijolos amontoados num dos cantos do prédio. Perguntei se eles serviriam para alguma reforma. A resposta foi que não. Na verdade, eles serviam para jogar na polícia quando eles viessem tentar desalojar os punks dali (risos). Em 2004, voltamos à Europa para uma turnê de um mês passando por Alemanha, França, Itália, Eslovênia e Áustria. Tivemos a oportunidade de mostrar, de forma atualizada, o som e a energia do punk brasileiro e do Cólera, numa festa diária, determinada e positiva. Contamos com a ótima infra-estrutura da Alerta Antifascista e da Dirty Faces (gravadoras independentes européias). Encontramos novos e velhos fãs. Mais do que uma tour, fizemos uma ótima campanha pacifista, batizada de Deixe a Terra em Paz. E estamos preparando a próxima turnê, que será em 2007.

No início dos anos 90 disseram que o Cólera também tinha virado thrash-metal. Comente...

Foi depois que gravamos Verde, Não Devaste!. O disco saiu muito pesado, influenciados que estávamos pelo speed-core europeu. A guitarra nas músicas estava distorcida ao máximo e as músicas eram mais agressivas, tipo “Parasita”, “Viva a Nossa Geração” e “Repressão Policial”. Como as bandas estavam passando todas a tocar metal, disseram que o Cólera também tinha sucumbido. O triste é que a cena foi ficando dividida, mesmo tendo espaço para todo mundo, o que eu sempre defendi. Naquela época, não apoiava nem os punks nem os metaleiros, pois acreditava que música era universal. O pessoal tinha que ter consciência de que a união era a única saída, como faziam os jovens na Europa. Cada um tem o seu direito de fazer o estilo que gosta. Não existe a traição. Os jovens de São Paulo estavam mais preocupados em brigar entre si do que contra a massificação.

Daí vocês surpreenderam com um disco sem distorção...?

É, foi o 1992: Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico. As guitarras foram gravadas sem nenhuma distorção, usando apenas a saturação dos amplificadores. É quase um disco de garage music, muito próximo da sonoridade do Clash e do Jam. Nossa meta era fazer uma nova linha sonora, algo que as pessoas ficassem se perguntando: o que é isso? Provamos que o Cólera não seguia tendências da dita moda, mas fazia seu próprio caminho. O álbum influenciou muita gente a voltar a tocar punk rock, o que foi bem legal. Pela visão que tínhamos do que estava acontecendo e como sempre fomos considerados referência na cena, partimos para algo novo, inusitado. As pessoas perguntavam se o disco era gótico, garage music ou rock’n’roll. Buscavam rótulos para decifrá-lo. Por isso, criamos um novo: fuck’n’roll. Nas gravações deste disco contamos com a entrada do Fábio na banda, o que foi muito legal também.

Deixe a Terra em Paz é um grande disco, com um discurso político muito forte. É o melhor da banda?

Sem dúvida é um dos nossos melhores álbuns. O disco lembra todo o nosso passado, mas abre espaço para experimentações, sonoridades e ritmos diferentes. É a nossa bandeira de resistência. Ele fala muito da parte ecológica também, da preservação do planeta, e do pacifismo, dessa coisa da não-violência. Além disso, tem esse lance de se enfocar muito o lado urbano de São Paulo, que no Pela Paz também é bem forte. Eu queria fazer um álbum totalmente amplo, fazer o que queríamos fazer. Sempre tivemos essa coisa de quebrar barreiras. O propósito desse álbum era estarmos felizes com o resultado e não ter medo de quebrar as barreiras, colocando sanfona, bombardino, violão, enfim, fazendo uma sonoridade nossa sem medo do que pudesse resultar. Acho que Cólera é uma banda que tem uma identidade forte desde o início, não dá pra dizer que parecemos isso ou aquilo. Acho mesmo que temos uma linguagem própria, um jeito de compor, de tocar. Esse álbum tem pegadas do punk rock que fazíamos no início, como “Ei Urgente” e “Trem Subúrbio”, e coisas que estamos fazendo agora, músicas com um pouco de pegada de metal, como “Oxigênio”, mas sem perder a linguagem Cólera. Agora, acho que o melhor disco do Cólera é o próximo (risos).

E hoje, o que você acha do Cólera?

Quando olhamos para trás e vemos os vinte e seis anos do Cólera, nos enchemos de orgulho por tudo o que fizemos, sem nunca abrir mão do nosso ideal de fazer o som do Cólera. E seguimos em frente porque as pessoas que gostam de nós sempre estarão nos acompanhando. O que plantamos, plantamos fundo, para ter certeza de que a árvore ia nascer alta. E deu certo. Sempre deu certo.


Curiosidades

Diversas bandas gravaram seus primeiros trabalhos com instrumentos emprestados do Cólera ou com participação de integrantes da banda. Eis algumas: Garotos Podres, Olho Seco, Grinders, Lobotomia, Anarcoólatras.


Serginho Groisman apresentava o programa Matéria Prima, na TV Cultura, no final da década de 80, quando escalou o Cólera para tocar ao vivo. O maestro Júlio Medalha, notório crítico do rock, também participava do programa. Ao ouvir o Cólera, ele não deixou de fazer críticas à banda, desqualificando o trabalho do grupo. Em resposta, Redson lhe perguntou: “Você acha que alguém como eu, que mora na periferia e toca numa banda de punk rock, ouve música clássica?” O maestro respondeu de pronto: “Claro que não”. E Redson concluiu: “Pois saiba que eu escuto seu programa de música clássica todas as semanas. Não tenho preconceito”. O maestro levou uma solene vaia do público presente.

O baixista do Cólera, Fábio Bossi, é técnico da Seleção Brasileira Júnior de Hóquei sobre Patins, além de comandar o time do clube do Banco do Brasil do mesmo esporte, em São Paulo. De 1995 a 2000, ele foi goleiro titular da Seleção Brasileira de Hóquei, disputando vários campeonatos mundiais.

O Cólera tocou com as grandes bandas de Brasília (Plebe Rude, Legião Urbana, Capital Inicial, Detrito Federal etc) em meados dos anos 80. No início, os grupos abriram vários shows do Cólera que, na época, contava com maior reconhecimento do público. A amizade entre eles fez com que a Plebe passasse a incluir “Medo” em seu repertório, e o Cólera uma versão hardcore de “Até Quando Esperar”.

Redson tocou em vários projetos paralelos, entre eles Rosa Luxemburgo e a banda The Cult Cover, na qual ele apenas cantava.

Em novembro de 1987, andando pelo centro de São Paulo, Redson é reconhecido por Eno, baixista da banda filandesa Lama, que passava férias no Brasil. Eles se conheceram durante a turnê européia do Cólera, num show em Oslo (Noruega). Semanas mais tarde, ambos dividiram o palco num show-manifesto no Largo São Francisco (SP).

Redson está escrevendo seu livro de memórias, que terá o nome de “Caquinho, o Punk Vermelho”. Misturando realidade e ficção e narrado na terceira pessoa, a obra contará a história do líder do Cólera e seu envolvimento com o rock nacional, desde os anos 70.

O Cólera abriu o 3º Festival SP Punk, que aconteceu em 19 de outubro de 2002, em São Paulo. Redson ainda tocou guitarra numa banda chamada Contra Ataque, formada por um integrante de cada uma das quatro bandas que participaram da coletânea SUB (1983). São eles Redson (guitarra/Cólera), Morto (vocal/Psykóze), Frango (baixo/Fogo Cruzado) e Betinho (bateria/Ratos de Porão). Eles tocaram músicas daquele disco.

Na primeira semana de novembro de 2002, rolou em São Paulo a terceira parte da trilogia do “Fim do Mundo”, inaugurada em 82 com o festival “O Começo do Fim do Mundo”, passando pelo “A Um Passo do Fim do Mundo” (2001), culminando no multi-evento “O Fim do Mundo - 20 Anos de Cultura Punk”. Foram 50 bandas escaladas para se apresentar nos oito dias de festival. O Cólera abriu o segundo dia, tocando com suas três formações: Helinho no vocal e guitarra, depois Val no baixo e por fim Fábio.

Na segunda turnê européia (abril/2004), Redson conta que tocou em lugares nos quais o Cólera já havia passado em 1987. O curioso é que ele reencontrou fãs daquela época que vieram ver a banda juntamente com seus filhos adolescentes. “Tocamos para duas gerações de fãs do Cólera”, diz Redson.

Redson e João Gordo (Ratos de Porão) foram amigos de longa data. Andavam juntos pelas ruas de São Paulo no começo do movimento punk. “A gente era moleque, andamos juntos um tempo”, conta Redson. Ocorreu que, com o surgimento das bandas de hardcore mais rasgado, como as finlandesas Kaaos, Terveet Kädet e Riistetyt, Gordo passou a considerá-las as “verdadeiras bandas punk”, tornou-se um radical e começou a criticar o Cólera. “Um dia, na Baratos Afins (gravadora de SP), a gente discutiu, batemos boca mesmo, e nunca mais nos falamos”, lembra Redson. Daí, com o estouro do Ratos na fase metal, as críticas ficaram ainda piores. Virou quase uma lenda a briga entre Gordo e Redson. Só que o líder do Cólera permaneceu em silêncio desde o começo, sem revidar. Ele explica os motivos: “Eu nunca tive nada contra o cara, quero mais é que ele seja feliz, que ele tenha saúde, que a banda dele vá pra frente e dê certo”. E, quanto mais Redson era indiferente ao caso, mais Gordo atacava. Resultado: os dois ficaram 17 anos sem se falar. Eis que, um dia, Gordo desiste de falar mal do Cólera e resolve, literalmente, pedir desculpas a Redson. E o faz num programa de rádio, ao vivo. De lá para cá, Gordo passou a elogiar o trabalho da banda, mostrar seus novos sons na MTV e convidá-los a participar dos seus programas. “Nada como um dia depois do outro”, filosofa Redson. “Eu fico feliz de não ter peso na consciência, pois não falei um ‘A’ contra o cara em entrevista nenhuma. E olha que me cutucaram. Mas eu estou dentro de uma coisa que se chama punk que prega a liberdade de expressão. Se eu meto o pau no Bush, estou sujeito também, então é isso aí”.

Em 1998, na cidade de Santo André (SP), Redson fez parte de uma experiência o mesmo tempo inusitada e histórica. Participou na direção musical do espetáculo “Ópera Punk”, escrito pelo jornalista Antonio Bivar e dirigido por Antonio de Pádua, ex-vocalista da banda Passeatas. A peça foi encenada pelo grupo Motim Punk, de Santo André, formado por músicos e pessoas ligadas ao movimento punk. Em 2006, a experiência pode se repetir. O Cólera está compondo músicas para marcar, em disco, os 25 anos da banda. Entre essas músicas, deve estar uma espécie de ópera, que poderá até ser encenada. “É uma idéia a ser considerada”, diz Redson.
 

Discografia

Tente Mudar o Amanhã (1984)
Pela Paz em Todo Mundo (1985)
Ao Vivo no Teatro Lira Paulistana - Cólera e Ratos de Porão(1986)
É Natal? (EP, 1988)
Cólera European Tour’87 (1989)
Verde, Não Devaste! (1990)
1992, Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico (1992)
Caos Mental Geral (1998)
Cólera 20 Anos Ao Vivo (2002)
Deixe a Terra em Paz (2004)

Coletâneas Nacionais

Grito Suburbano (1982)
SUB (1983)
Começo do Fim do Mundo (1983)
Ataque Sonoro (1985)
Tributo ao Olho Seco (2000)

Coletâneas internacionais

Beating the Meat (1984, Inglaterra)
Empty Skulls Vol. 2 (1986, EUA)
Bunker (1987, Alemanha)
Dê o Fora (EP, 1987, Bélgica)
1984, The Third Sonic World War (1989, França)
Pela Paz e Tente Mudar o Amanhã (1995, Finlândia)

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